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publicado: 22/03/2017 06h36,
última modificação: 28/12/2021 12h11

São José do Egito é conhecida como a capital da poesia, Berço Imortal dos cantadores, capital dos repentistas… Todos esses títulos partem da grande concentração de poetas repentistas, que nasceram ou vivem na cidade, são conhecidos nacional e até internacionalmente. 70% dos poetas nordestinos são egipcienses, ou seja, de cada 10, 7 são de São José. Essa informação é confirmada pela grande maioria dos estudiosos dessa arte popular que tanto encanta à todos.

Eu nasci la no recanto,
do Sertão, que amo tanto,
onde o sol desdobra o manto,
feito de rendas de anil,
onde o firmamento extenso,
é um grande espelho suspenso,
refletindo o rosto imenso,
da minha pátria, o Brasil!

Autor: Rogaciano Leite

  Foto de SJE

Mário Souto Maior e Waldemar Valente afirmam em seu livro Antologia da Poesia Popular de Pernambuco (Editora Graphia, Rio de Janeiro, 2002), que a capital da poesia em todo estado de Pernambuco é São José do Egito, segundo eles, dos 48 repentistas que forma pesquisados para a confecção do livro, em todo território Pernambucano, 32 ou seja, 66% eram de São José do Egito.

És, de Rogaciano, a exaltação
És de Biu de Crisanto o trigal
De Antonio Marinho o primordial
És de Dimas a sofisticação
De Otacílo a popularização
És de Manoel Filó a companhia
És de Didi de Job a empatia
Desses gênios que insisto em recordar
Tenho orgulho em poder me apresentar
Sendo filho da Terra da Poesia

És dos “filhos poetas” atuais
A grandeza de um Marinho (O Neto)
Nõe de Job de um poetizar inquieto
São José onde tudo inspira mais
Gilmar Leite em sonetos colossais
Um Pirráia pintor da apologia
O lirismo dos sonetos de Bia
De Mizita a nobreza ao versejar
Tenho orgulho em poder me apresentar
Sendo filho da Terra da Poesia

Tem Vinícius e a genialidade
Tem Alan Miraestes e seus causos
Lamartine a quem lanço meus aplausos
Greg com a sua pluralidade
Renato Santos com o ar da saudade
Paulo Passos e a sua simetria
Sales Rocha do verso em sinfonia
Marcos Passos nos laços do rimar
Tenho orgulho em poder me apresentar
Sendo filho da Terra da Poesia.

Auto: Márcio Rocha

Rua da baixa SJE

EXISTE RAZÃO PARA TANTA POESIA EM UM SÓ LUGAR?

Não existe nenhuma explicação definitiva, porém alguns estudiosos arriscam apenas interpretações para tanto violeiro em uma só região: Europeus em sua maioria portugueses, fazendeiros à época, tinham condições e espirito aventureiro, ou seja, foram os que depois dos índios, chegaram por essas bandas do Nordeste, como sempre levaram consigo a viola e trouxeram então a musicalidade e a poesia para a região, não sendo essa que conhecemos hoje, mais com elementos daquela época, mas existem controvérsias.

Outra explicação, essa cultural e lendária, diz que algum, dos primeiros poetas que por aqui chegaram, enterrou uma viola nas margens do Rio Pajeú e dai a cultura se proliferou com seus repentistas. Até hoje dizem que quem bebe das águas do Pajeú adquire um pouquinho da cultura local.

POETAS

Antônio Marinho do Nascimento, nasceu em 5 de Abril de 1887 em São José do Egito e morreu em 29 de Setembro de 1940 na mesma cidade. Antônio Marinho foi um dos primeiros e mais conhecidos poetas de todos os tempos da capital da poesia, durante toda sua vida teve residência fixa em São José. A grande maioria de seus versos não foi registrado, ficando somente na memória do povo, ele era extremamente rápido na improvisação em fazer versos, por isso o apelido de águia do Sertão. Ele também era conhecido por suas respostas cômicas, engraçadas.

Antonio Marinho do Nascimento

Agostinho Lopes dos Santos, foi outro grande ícone da poesia popular nordestina, ele nasceu em 1906, na fazenda Cajá e faleceu em Caruaru no ano de 1972. Filho de Agricultores, vivia somente da viola a partir de 1927, quando “ganhou o mundo” levando a arte do improviso pros quatro cantos desse Brasil.

Agostinho Lopes

Em Pernambuco nasci,

Na praia boa viagem,

Tirando grande vantagem,

Nesse passo que ali dei,

Foi aonde eu encontrei

O porto do meu destino

O orvalho Matutino,

Me soprava do nascente,

Faz gosto ouvir-se o repente

Do cantador nordestino.

Autor: Agostinho Lopes

Lourival Batista Patriota, ou Louro do Pajeú como ganhou fama em todo território nacional, ele era temido por muitos cantadores pela rapidez em improvisar trocando letras de lugar e formando palavras que nem sempre eram sinônimos de grandeza para quem cantava com ele, por isso a apelido de “rei dos trocadilhos.” Ele nasceu no dia de Reis, 6 de Janeiro 6 anos depois de São José se tornar cidade, 1915.

Louro era irmão de outros dois grandes poetas da época, Dimas e Otacílio Batista, além de ser genro de Antônio Marinho, ou seja já trazia nas veias desde o nascimento a fina arte da poesia. Lourival foi também um dos grandes parceiros de outro gigante da poesia nordestina, Pinto do Monteiro.

Louro morreu em 1992, mas sua família até hoje comemora seu aniversario, em frente a casa que ele morou por muitos anos e que hoje abriga um museo com objetos que pertenceu a ele durante sua passagem pela terra, a festa reúne milhares de pessoas não somente da cidade, mas de outros estados e até de outros países dada a importância dele pra cultura. Todo dia 6 de Janeiro.

Lourival Batista Patriota

Para se ter noção de como ele era rápido no pensamento ele fazendo uma cantoria , seu parceiro terminou o verso dizendo: Sou igualmente um dragão, do Rio Grande falado.

Louro emendou:

Pra ser dragão tás errado

Mas Lourivá já te explica

Tire letra, apaga letra,

Tira letra e metrifica,

Tira o “d”, apaga o “r”

Boca o “c” e vê como fica.

Autor: Lourival Batista

 

Otacílio Batista Patriota, nasceu em 26 de Setembro de 1923, na vila de Umburanas, hoje Itapetim, mas que na época pertencia a São José do Egito, Otacílio participou pela primeira vez de uma cantoria com 17 anos de idade, dai em diante nunca mais abandonou a poesia.

Em mais de 50 anos cantando mundo afora, participou de festivais de cantadores em vários estados brasileiros, como Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, São Paulo e Rio de Janeiro. Escreveu muitos livros e folhetos, além de gravar discos de vinil “cantando a poesia.” Versos de Otacílio foram musicados pelo cantor Zé Ramalho e deram origem a famosa canção “Mulher nova, bonita e carinhosa.” Otacílio faleceu em 5 de Agosto de 2003, na capital da Paraíba, João Pessoa.

 Otacílio Batista Patriota

Depois de ouvir Otacílio Batista cantar durante um festival de violeiros realizado no Rio de Janeiro, o poeta Manuel Bandeira disse os seguintes versos:

Anteontem, minha gente,
Fui juiz numa função
De violeiros do Nordeste
Cantando em competição,
Vi cantar Dimas Batista,
Otacílio, seu irmão,
Ouvi um tal de Ferreira,
Ouvi um tal de João.
Um a quem faltava um braço
Tocava “Cuma” só mão;
Mas como ele mesmo disse,
Cantando com perfeição,
Para cantar afinado,
Para cantar com paixão,
A força não está no braço,
Ela está no coração.
Ou puxando uma sextilha,
Ou uma oitava em quadrão,
Quer a rima fosse em inha
Quer a rima fosse em ao,
Caíam rimas do céu,
Saltavam rimas do chão!
Tudo muito bem medido
No galope do Sertão.
A Eneida estava boba,
O Cavalcanti bobão,
O Lúcio, o Renato Almeida,
Enfim toda comissão.
Saí dali convencido
Que não sou poeta não;
Que poeta é quem inventa
Em boa improvisação
Como faz Dimas Batista
E Otacílio seu irmão;
Como faz qualquer violeiro,
Bom cantador do Sertão,
A todos os quais humilde
Mando minha saudação.?

 

Dimas Batista Patriota, nasceu no dia 21 de Agosto de 1921, também em São José do Egito. Foi poeta-violeiro até a década de 1960, quando abandonou a cantoria e resolveu estudar, virou professor universitário, formado em letras, participou do primeiro congresso de cantadores de um dos teatros mais famosos da época o Santa Isabel em Recife, no dia 5 de Novembro de 1948.

Dimas Batista Patriota

Nasci no Sertão, desfrutando as virtudes

Dos tempos de inverno, fartura e bonança;

Depois veio a seca, fugiu-me a esperança

Diante de cenas cruéis e tão rudes

Vi secos os rios, as fontes, os açudes,

E eu que gostava tanto de pescar

Saí pelo mundo tristonho a vagar

Fui ter numa praia de areias branquinhas

E olhando as belezas das águas marinhas,

Cantei meu galope na beira do mar.

Auto: Dimas Batista

Job Patriota, nasceu em primeiro de Outubro de 1929 e faleceu em 11 de Outubro de 1992, nasceu e morreu no berço dos cantadores, seu local de origem foi o sítio Cacimbas, então vila de Umburanas, hoje município de Itapetim, mas que na época pertencia a São José do Egito. Filho de agricultores, sua vida inteira foi dedica a poesia no fim da década de 50, precisamente no ano de 1959 participou de um congresso de cantadores no teatro Arena, no Rio de Janeiro, onde um dos integrantes da mesa julgadora era nada mais, nada menos que Manuel Bandeira, lá ele disse:

Menosprezar a velhice

Hoje aqui não adianta

Olhem ai o Manuel Bandeira

Um velho de ideia santa,

Eu canto e não sou poeta

Ele é poeta e não canta

Autor: Job Patriota

Job Patriota

 

PONTOS TURÍSTICOS DE SÃO JOSÉ DO EGITO

– Centro histórico, que reúne a primeira rua da cidade, conhecida como Rua do Arranco, a igreja matriz de São José, com quase 200 anos de existência e o prédio do antigo paço municipal que hora é um memorial.

Centro historico SJE

Igreja Matriz

02 Centro historico

– Beco de Laura, hoje um dos maiores murais a céu aberto do mundo retratando poesias de vários poetas de São José do Egito e da região.

Beco de Laura

02 Beco de Laura

 

– Sítio arqueológico com escrituras rupestres que podem ter centenas de anos ou até mais.

Sítio arqueológico SJE

 

– Serra Preta, local de um possível vulcão que nunca entrou em erupção.

Serra Preta SJE

 

– Capela e fazenda de São Pedro, lugares que já existem a centenas de anos e que surgiram até antes da origem de São José do Egito.

Capela e fazenda de São Pedro